A aceitação do “adeus”
Texto escrito por mim, cerca de dez minutos depois de saber da notícia do falecimento da minha avó, que estava com câncer no intestino e havia sofrido um AVC. Há uma grande repetição da palavra “senhora” — que é a forma como eu sempre me referi a ela. Perdoem se houverem erros gramaticais.
Eu pensei que a senhora fosse voltar.
De verdade, foi o que pensei.
Talvez eu fosse esperançosa demais. Talvez eu nunca tenha sentido o peso da morte de verdade. Talvez eu estivesse me enganando...mas eu acreditei.
Sabe Vó, eu escrevi um texto pra você. Não esse: um texto grande, bonito, esperançoso. Um texto inteiro dizendo que eu te amo e que seria incrível quando a senhora voltasse do hospital…
Mas a senhora não vai voltar.
Por quê? - eu me pergunto - Por que havia a necessidade de que a senhora se fosse agora? Por que não houve um aviso prévio, um sinal, algo ou alguém que me dissesse que aquele “dia das mães” seria o último ao seu lado?
Eu ainda não consigo acreditar, vovó. Em nada disso.
Pra mim a senhora ainda está no hospital, “dodói” — como você costumava falar. Pra mim a senhora ainda vai passar por algumas coisinhas, mas depois vai voltar pra casa, feliz e bem. Pra mim eu ainda vou poder te dar o último abraço, ter uma longa última conversa, vou poder passar longos 15 minutos te abraçando e dizendo o quanto te amo, te admiro e o quanto a senhora foi importante na minha vida.
Fico triste e arrependida em saber que não poderei fazer mais isso. Que eu devia ter feito isso antes que a senhora se fosse, durante as férias que eu passava na casa da senhora, quando pequena, durante o último dia das mães, durante um de seus muitos aniversários ou em um dia normal, simplesmente chegar na senhora, te dar aquele abraço e te contar que pra mim a senhora é a minha segunda mãe e que eu faria tudo pra que a senhora fosse eterna.
Se eu soubesse...eu faria tudo isso.
Tocaria os seus cabelos e te diria que são os mais lindos do mundo. Que você foi a pessoa mais doce que eu já conheci na vida. Te faria sorrir. Lavaria a louça, enxugaria os pratos, limparia os móveis, cozinharia… só pra te ajudar e não deixaria que a senhora sofresse nunca. Te pediria a benção, te contaria tudo o que têm me acontecido, te tranquilizando e te deixando claro que tudo está bem comigo. Já que desde o meu pequeno distúrbio alimentar, isso tem a preocupado demais e eu, erroneamente, não consegui te passar confiança o suficiente e te fazer confiar que eu não vou deixar que isso ocorra novamente.
Eu queria que a senhora soubesse que se eu pudesse eu não deixaria que nenhum sofrimento lhe atingisse. Não permitiria que nada daquilo acontecesse. Eu lutaria, faria o que fosse preciso, faria que fosse diferente.
Sabe, que, mesmo não estando mais aqui, mesmo não podendo me abraçar e dizer algum conforto, a senhora está me ensinando uma lição. Está me mostrando que devemos valorizar o hoje. Não esperar acontecer algo assim para dizer “eu te amo” pra alguém porque hoje é importante. Que não devemos nos envergonhar de mostrar afeto e que devemos valorizar cada segundo, pois é muito precioso.
Eu sei que a senhora está feliz agora. Eu sei disso, é o que me alivia. Mesmo com toda essa saudade, o que me deixa bem é saber que a senhora está bem melhor. Que todas as coisas que eu faria para que a senhora não sofresse já foram feitas, que Deus está bem aí, do seu lado agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário