segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Resenha: O Conto da Ilha Desconhecida - José Saramago

Resenha: O Conto da Ilha Desconhecida - José Saramago






   Sinopse: 

   Um homem vai ao rei e lhe pede um barco para viajar até uma ilha desconhecida. O rei lhe pergunta como pode saber que essa ilha existe, já que é desconhecida. O homem argumenta que assim são todas as ilhas até que alguém desembarque nelas.
   Este pequeno conto de José Saramago pode ser lido como uma parábola do sonho realizado, isto é, como um canto de otimismo em que a vontade ou a obstinação fazem a fantasia ancorar em porto seguro. Antes, entretanto, ela é submetida a uma série de embates com o status quo, com o estado consolidado das coisas, como se da resistência às adversidades viesse o mérito e do mérito nascesse o direito à concretização. Entre desejar um barco e tê-lo pronto para partir, o viajante vai de certo modo alterando a idéia que faz de uma ilha desconhecida e de como alcançá-la, e essa flexibilidade com certeza o torna mais apto a obter o que sonhou.
   "...Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós...", lemos a certa altura. Nesse movimento de tomar distância para conhecer está gravado o olho crítico de José Saramago, cujo otimismo parece alimentado por raízes que entram no chão profundamente.
   Inédito em livro, O conto da ilha desconhecida é ilustrado por oito aquarelas de Arthur Luiz Piza. 


   Autor: José Saramago
   Editora: Companhia das Letras
   Número de páginas: 63
   Nota: 4,5/5



   Publicado em 1997, O Conto da Ilha Desconhecida conta a história de um homem, retratado como "O homem de leme" que tem como objetivo entrar em alto mar, para chegar até uma ilha desconhecida.
   Decidido a chegar até os seus objetivos, sempre que perguntado sobre onde está a tal ilha desconhecida, o homem responde com tamanha ousadia - até mesmo ao rei.
   Em um palácio onde há toda uma burocracia para chegar ao rei e com um rei que nunca falou diretamente com o seu povo, passando os recados por um bocado de gente até chegar até ele, o homem do leme de forma astuta se põe de pé e exige que o rei venha até ele, para atender ao seu pedido. Ficando por volta de três dias, até que em um diálogo cômico, o homem consegue persuadir-lo a vir até ele e - por fim - a atender o seu pedido que aparenta ser um tanto quanto ilógico, para o rei.
   Em suas 63 páginas, o livro é repleto de frases reflexivas e com mensagens sociais de extrema importância, por trás de cada uma de suas palavras. Desde a incerteza dentro da certeza até a uma grande metáfora sobre a humanidade. Muito provavelmente, uma das coisas que eu mais gostei foram os personagens serem sempre retratados por suas profissões, ao invés dos nomes, em uma crítica óbvia ao capitalismo e a valorização do homem pelo que tem e nunca pelo que é. E também, a dinâmica das portas do rei, onde há uma porta onde ele recebe as contribuições do povo e essa porta está sempre á disposição, enquanto a porta onde as pessoas fazem seus pedidos conta com uma burocracia enorme, onde o pedido precisa passar por diversas pessoas, para chegar até o dito-cujo.
   A ousadia do homem, retratada logo no início, dá margem a quebra de um sistema e um alvoroço que apenas um homem, tomado pela coragem pode causar.
   Com uma escrita simples e envolvente, José Saramago nos leva a - literalmente - sairmos de nós, para que assim possamos nos ver. A história passa diante dos nossos olhos de forma rápida e marcante. Num ritmo muito semelhante ao de um sonho. Apresentando personagens e novos elementos a todo momento, mas com sempre uma coisa em comum: não se sabe o nome de nenhum deles.
   De forma peculiar, o autor enche o seu protagonista de desconhecimentos generalizados, ao lado de grandes certezas. Dessa forma, nós chegamos até a sua última página com sede por mais e com bastante pensamentos para colocarmos em dia.
    Nesta versão, o livro conta com ilustrações belíssimas de Arthur Luiz Piza e páginas em papel couché matte.

   "E a ilha desconhecida, perguntou o homem do leme, A ilha desconhecida não passa duma ideia da tua cabeça, os geógrafos do rei foram ver nos mapas e declararam que ilhas por conhecer é coisa que se acabou desde há muito tempo..."



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